domingo, 17 de julho de 2011

Ao meu mestre em harmonia

Hoje no caminho de casa, voltando de um domingo de estudos, passei por uma família de rua.  A mãe e a filha estavam juntas no meio fio olhando alguma coisa à minha esquerda.  À minha direita, afastado das duas, um menino muito novo, de no máximo 5 anos, brincava com um carrinho.  Ao olhar mais de perto, percebi que o carrinho era na verdade seu pequeno chinelo.  E que nós compartilhamos esta visão do carrinho juntos.  Com o chinelo, ele brincava de tal maneira própria a um carrinho - que este quase se transformava num verdadeiro carrinho, com movimentos e a física própria ao brinquedo daquele formato.  Tão real era a sua crença no carrinho, que aquele chinelo havia se transformado no próprio carrinho - ao seus e meus olhos!

Naquele momento, me emocionei profundamente ao entender aquela lição divina.  Compreendi que naquele momento, aquela criança havia superado sua dor, suas perdas materiais, suas privações, suas provas e havia evoluído.  Talvez quebrando um ciclo de tristeza, talvez quebrando o sofrimento de décadas, de milênios ao aprender a superar suas próprias provações - sendo feliz e serena apesar da própria frustração de seus sonhos, da impossibilidade material de concretizar seu desejo - superando tudo que lhe tornaria incapaz de atingir a real importância do que há de valor em se ter um carrinho - a felicidade pura de brincar!

Em poucos segundos, eu já havia me afastado da família, e com profunda empatia e afeto, orava por aquelas almas - que assumiram tão duro compromisso de evolução nesta vida.  Pedi a benção divina para que eles pudessem trilhar seus caminhos e evoluir com a proteção de seus Guias e de Deus.

Mais alguns segundos, poucos segundos, à frente, ouvi uma música alta e estridente, que percebi estar vindo de uma igreja, há menos de 1 minuto daquela família.  Uma igreja aberta a rua, onde uma banda cantava canções religiosas, e crianças muito saldáveis e felizes dançavam na porta.  Aquilo me atingiu muito fortemente.  Interessante a ironia.  Não tenho certeza do porquê.  Mas tenho quase certeza de que aquelas pessoas, dentro daquela igreja, há poucos segundos daquela família, quase praticamente no mesmo lugar geográfico, não estavam conscientes de sua existência.  Era como se ambos habitassem o mesmo mundo, porém em esferas ou dimensões completamente diferentes e aparte.  Como se estivessem praticamente co-habitando o mesmo universo geográfico, porém não energético ou subjetivo.  Se me permite assim metaforizar, para propósitos descritivos...

Lembrei do tempo como uma propriedade multi-dimensional que alguns físicos defendem, algo que explicaria o comportamento das partículas quânticas no micro universo.  Isso explicaria a lei da não-localidade ou o princípio da incerteza que regem o mundo das partículas quânticas - ou seja, elas tanto podem estar aqui como ali em qualquer dado momento - e quando se determina sua velocidade, se perde sua localização, mas quando se determina sua localização, se perde sua velocidade - e isso seria simples de entender se o tempo não fosse uma linha de progressão reta e uni-dimensional, mas talvez uma linha com espessura, profundidade em três ou mais dimensões.  Não seria talvez essa lei aplicável ao macro como no micro universo?  Não seria talvez uma explicação para os encontros e desencontros da vida...assim como a aparente subjetividade do tempo-espaço?  Mas, voltemos a minha caminhada...mais sobre isso em subsequentes divagações...

Trilhei todo o caminho até em casa pensando naquela criança, e orando - para que ela pudesse atingir a sua proposta evolução nesta vida.  Então percebi que a criança, naquele momento único de espaço e tempo, com a sua ação de infinita sabedoria, havia se sido em meu mestre.  Com aquele singelo movimento, com aquela inocente escolha - em ser feliz - aquela pequena criatura me ensinara que em todo e qualquer momento de minha existência, perante toda e qualquer situação, sou eu - a senhora de meus sentimentos, de minha paz, de meu destino, e de minha evolução.  Que me cabe o papél de traçar o meu caminho, pautado pelo ímpeto (pulsão) de vida ou de morte, perante todas as adversidades e bençãos que minha via evolutória me apresentar.
De repente, percebi que a minha consciência - a minha capacidade de naquele momento apreender tal lição, me ligaram a esta alma como numa dança divina, num ciclo de evolução - quando naquele pequeno espaço de tempo, eu pude estender àquela alma talvez carente, talvez errante - uma chance transitória de me ensinar um ensinamento eterno - doando a ele uma chance de também crescer, de também evoluir e de colher o karma positivo desta interação - que se expressa de forma concreta na minha gratidão e no meu profundo amor por ele.  Aonde, eu, por estar consciente à lição que a alma possa me ensinar, proporciono a ela a dádiva de dividir a troca de amor, a recepção da oração, e mais profunda do que qualquer outra doação - estendo ao outro a possibilidade de me auxiliar na minha própria evolução.  Percebi então que a consciência é também um ato - de doação!

Neste momento, me tocou uma beleza de profunda e indiscritível natureza, e quase chegando à minha casa, eu chorei, e agradeci.  Percebi que talvez não há maior doação do que conferir a uma alma irmã a possibilidade de lhe tocar, lhe mover por dentro e lhe modificar pelos mais íntimos e profundos canais.  Conferir ao outro a passagem de entrada para lhe ensinar algo que jamais esquecerá.  A real consciência apreende por todos os sentidos, pela emoção, pela razão e pela alma.  Imprime no coração da alma a frequência daquele momento/acontecimento - para nunca mais apagar.  Neste momento fui tomada por uma emoção que era maior do eu.  Uma emoção sem palavras.  Corri para casa, ansiosa, e transbordando já de palavras e conceitos para tentar experimentar no papél algo que, mesmo que brutamente, pudesse se assemelhar à experiência de profundo enlace espiritual que vivi.

Agradeço a criança-mestre que cruzou meu caminho, agradeço a meus Guias por este professor.  Agradeço a chance de viver um dia de estudos cósmicos - tanto teóricos como práticos.  Agradeço por todos os carrinhos que tive na minha infância e também pelos que não tive e que não tenho!  Peço toda a misericórdia e luz para a alma do meu mestre-criança.

- Fernanda Tornaghi.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Peço licença para divagar um pouco sobre a tristeza humana.

Na aula de domingo dia 10/7/2011, nós - trabalhadores do da casa de Benedito das sessões de Terça-feira, nos reunimos para aprender muito sobre a saúde espiritual através de uma entidade médica, que não se nomeou.

Aprendemos que o nosso corpo físico é o templo - a casa - de nossa alma eterna, no momento desta vida.  Como qualquer templo material - ele não deve ser o alvo final de nossa adoração - mas deve ser respeitado e cuidado - como a moradia sagrada de nossa alma.

"Se você chega na sua casa e ela está bagunçada e desordenada, o que você tem vontade de fazer?" o nosso médico nos perguntou... Uma irmã respondeu: "tenho vontade de ir embora."

Tenho vontade de ir embora...


Imagine as implicações desse sentimento para uma alma que habita um corpo doente, ou um corpo abandonado, ou um corpo maltratado.  É profundo o sofrimento de uma alma, que não consegue se sentir em casa dentro da própria moradia.  É importante compreender o quanto isso impacta toda a nossa existência.

É importante lembrar também - que as enfermidades do corpo não são apenas aquelas visíveis ou tatéis.  O corpo também adoece por dentro, e também adoece no espírito.  A tristeza, a violência, a revolta, a raiva, o pânico, a depressão - são doenças sutis, que se apresentam até com sintomas físicos também, porém fazem seu maior estrago mesmo no âmbito mais discreto e solitário do ser-humano.  Em lugares aonde até raramente ele é percebido pedindo ajuda.  E por não conseguir pedir ajuda, ou manifestar a necessidade de ajuda, ele pode passar por vezes - uma existência, ou quem sabe muitas existências, em doença crônica e lenta, que promove a sua sensação de destruição mais dolorosa - a implosão.

Um irmão perguntou, ao fim da palestra do nosso professor-médico, sobre a tristeza.  Nosso professor respondeu, que a tristeza quase sempre diz respeito à perda, e à possessão.  Ou a ilusão da posse.  Que muitas vezes nós confundimos o amor com o sentimento de posse nesse plano.  Que precisamos estar atentos.

Em sequência, eu perguntei: "E a depressão, ela é como a tristeza?"
Nosso professor explicou que a depressão é uma tristeza quem vem de outras vidas.  Que eu provavelmente senti depressão desde a infância.  Eu confirmei isso.  E ele continuou a ensinar que a depressão é permeada por uma sensação de que não se merece o amor, de que não se é digno do amor.  E que espíritos que sofrem essa enfermidade, normalmente espíritos de uma natureza mais pacata, não dada a violência, se voltam para o seu interior e ao sentir tristeza de violência tão grande - se violentam a si mesmos, como numa implosão.  Voltam para dentro a violência da tristeza profunda e do desamparo que sentem, por se acreditarem indignos do amor.  A depressão é a tristeza crônica implodida - voltada para dentro de si mesmo.

"Quando chegou a esta casa, essa menina era de uma violência profunda - contra si mesma - porque é de uma natureza pacata, e não cometeria violência externa, por isso se voltava para dentro."  ele disse de mim.

Hoje encontrei o melhor tratamento - que é doar amor.  Distribuir o próprio amor é em si a maior ação de cura para a descrença de que se merece amor.  Exercitar o próprio amor interno é o que fomenta a percepção de que se é digno de amor - próprio e do outro.  E então nasce um ser que se ama, ama o outro e é digno, merecedor, e se acredita merecedor - de amor.  Parece que esta solução é ao contrário - quando se procura amor, o caminho é dar amor?
Mas sim, no mundo da alma as equações são circulares.  O mundo real do espírito, e hoje em dia a ciência começa a perceber - que o da matéria e energia também - é todo circular.  A vida é circular.  Os eléctrons orbitam os núcleos dos átomos em forma circular.  As fases da natureza se comportam de forma circular - em ciclos.  A vida humana é repleta de ciclos.  A existência da alma é pautada por ciclos de existência - vida, desencarne, e reencarne.  O universo - o homem hoje começa a questionar - originou a partir de um novo momento do ciclo de existência - que culminou no Big Bang.  O Big Bang começa a ser colocado como o apse de um ciclo que se concluiu e recomeçou.  Nas emoções humanas também - as lógicas são circulares - e como num círculo não existe o começo nem o fim, mas só o estágio atual - também no mundo das emoções - o dar e o receber se confundem - são duas dimensões do mesmo sentimento - dois estágios, ou dois lados da mesma moeda.

A maior doação que o sentimento de amor proporciona - é ao próprio ser que doa.  Dar e receber são mesmo de fato a mesma palavra - de acordo com o espírito.  Na dimensão do espírito - não existe separação entre esses dois atos.  Eles são o mesmo ato.  Ao dar amor, o ser que doa é infundido por amor.  E isto aqui é o mais importante de se entender: no ato de receber amor, para efetivamente recebê-lo, só é capaz de receber - quem conhece a capacidade de dar.  No ato de receber amor - naquele momento exato - o ser que recebe - também dá.  O amor é como uma corrente circular que precisa passar através de um portal para adentrar a alma - a senha que abre este portal é - o dar.  No momento em que se recebe, invariavelmente, se dá.  É necessário espelhar/identificar o amor para que ele penetre - vivemos em círculos, e também em dualidades - a chave só se completa quando se complementa o todo do círculo, como nas fases dos ciclos, como no início, fim e recomeço - todo, como na identificação empática do espelho - eu, outro, nós - o mesmo. Se essa equação não fôr assim - circular - não é amor que está circulando, por assim dizer, ali - mas uma de suas menos privilegiadas corruptelas, talvez a posse, talvez a necessidade, talvez a carência, talvez o interesse, talvez o vício.

Um caso interessante de cura é o trabalho voluntário, de ajuda ou de assistência.  Essas são perfeitas plataformas de tratamento da alma enferma com a depressão, ou com a falta de amor.  É costumeiro se dizer, eu doei para pessoas menos fortunadas, e me senti melhor porque percebi que alguns tem muito menos do que eu.  Esse pensamento, apesar de justo e belo, não é a real função deste tratamento.  O tratamento se dá, porque ali o paciente enfermo da depressão, encontra um espaço para exercitar o próprio sentimento de amor que mora dentro dele, mas que há tanto anda tão desconectado de sua vida, e de sua alma, que ele já não se lembra mais como praticá-lo - nem pelo outro, nem por si mesmo.  Gelada a alma adoece e se coloca num ciclo de dormência, aonde ela procura tentar fazer o mínimo de mal possível a si mesma ou aos outros.  Porque como não são de natureza violenta, os seres depressivos procuram adormecer a própria raiva para não prejudicarem tanto a sua própria ordem interna ou externa com a violência.  Mas este adormecer, digamos assim, também o impossibilita de sentir o próprio ímpeto de luta.  Não são seres de luta, mas são seres da mais profunda qualidade de amor.  Por serem tão profundos, também adoecem ao se depararem com as inevitáveis e naturais perdas da vida.  E seu maior aprendizado é crescer e superar a sua própria natureza frágil, singela que se converte em sofredora frente a transiência e instabilidade da existência nesse plano inferior de matéria em que habitamos momentaneamente.  Para estas almas de profundo amor, em busca de um profundo aprendizado de dor, o maior tratamento possível é a doação do amor.  Ainda que comece mecânico e superficial - e depois se torne intenso e comprometido.  Pois essas almas podem começar devagar e desconfiadas, já que aprenderam a se proteger em grandes cascas e escudos, tamanho o nível de sua dor pungente, mas essas são almas apaixonadas.  E logo em breve se apaixonam pela oportunidade de doar, que é em última análise - a oportunidade de vivenciar amor - concreto, sutil, simples, simétrico e circular.

Agradeço a oportunidade de poder digitar esse texto que é ao mesmo tempo pessoal e nitidamente soprado por entidades superiores.  Agradeço.

- Fernanda Tornaghi.